ESPELHO
– JOÃO NOGUEIRA
Nascido no subúrbio nos melhores
dias
Com votos da família de vida
feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me
descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse
meu país
O pai de anel no dedo e dedo na
viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz
Ê vida boa
Quanto tempo faz
Que felicidade!
E que vontade de tocar viola de
verdade
E de fazer canções como as que
fez meu pai
E de fazer canções como as que
fez meu pai
E de fazer canções como as que
fez meu pai
Num dia de tristeza me faltou o
velho
E falta lhe confesso que ainda
hoje faz
E me abracei na bola e pensei ser
um dia
Um craque da pelota ao me tornar
rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o
dedo
E sem ter mais o velho pra tirar
o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra
trás
Ê vida à toa
Vai no tempo vai
E eu sem ter maldade
Na inocência de criança de tão
pouca idade
Troquei de mal com Deus por me
levar meu pai
Troquei de mal com Deus por me
levar meu pai
Troquei de mal com Deus por me
levar meu pai
E assim crescendo eu fui me
criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no
lar
Um dia eu me tornei o bambambã da
esquina
Em toda brincadeira, em briga, em
namorar
Até que um dia eu tive que largar
o estudo
E trabalhar na rua sustentando
tudo
Assim sem perceber eu era adulto
já
Ê vida voa
Vai no tempo, vai
Ai, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho
tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual
seu pai
Pois me beijaram a boca e me
tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o
verso
E o meu medo maior é o espelho se
quebrar
E o meu medo maior é o espelho se
quebrar
E o meu medo maior é o espelho se
quebrar
E o meu medo maior é o espelho se
quebrar
E o meu medo maior é o espelho se
quebrar
E o meu medo maior é o espelho se
quebrar
E o meu medo maior é o espelho se
quebrar
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Lindeza!
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