CABIDE
DE MULAMBO – JOÃO DA BAIANA
Meu Deus, eu ando com o sapato
furado,
Tenho a mania de andar
engravatado,
A minha cama é um pedaço de
esteira,
E uma lata velha que me serve de
cadeira.
Deus, meu Deus, meu Deus!
Eu ando com o sapato furado,
Tenho a mania de andar
engravatado,
A minha cama é um pedaço de
esteira,
E uma lata velha que me serve de
cadeira.
Minha camisa foi encontrada na
praia,
A gravata foi achada na Ilha da
Sapucaia,
Meu terno branco parece casca de
alho,
Foi a deixa de um cadáver, num
acidente do trabalho.
Meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Eu ando com o sapato furado,
Tenho a mania de andar
engravatado,
A minha cama é um pedaço de
esteira,
E uma lata velha que me serve de
cadeira.
O meu chapéu foi de um pobre
surdo e mudo,
As botina foi de um velho, da
Revorta de Canudo,
Quando eu saio a passeio, as
damas ficam falando:
"Trabalhei tanto na vida, o
malandro está gozando".
Meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Eu ando com o sapato furado,
Tenho a mania de andar
engravatado,
A minha cama é um pedaço de
esteira,
E uma lata velha que me serve de
cadeira.
A refeição é que é interessante,
Na tendinha do Tinoco, no pedir
eu sou constante,
E o Português, meu amigo sem
orgulho,
Me sacode um caldo grosso,
carregado no entulho.
Meu Deus, eu ando com o sapato furado,
Tenho a mania de andar
engravatado,
A minha cama é um pedaço de
esteira,
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