GAROTA
DE SUBÚRBIO – CLARA NUNES
Vou pela rua andando à toa
Sobre mim cai a garoa
Me estragando o paletó
E cada pedra, cada passo,
Do calçamento onde eu passo
Me recorda que estou só
Naquele morro tão distante
Lá pras bandas do levante
Onde o sol bate primeiro
Deve estar por certo adormecida
A razão da minha vida
Da vida do meu pandeiro
Lembro da mulata espreguiçando
No batente assobiando
No mesmo tom dos pardais
Hoje sem amor e sem vontade
Sou escravo da saudade
Parceiro do nunca mais
E a garoa mansa do subúrbio
Se transforma num dilúvio
E eu não quero me abrigar
Corre a chuva triste em minha
face
Peço a Deus que ela não passe
Pra ninguém me ver chorar
Corre a chuva triste em minha
face
Peço a Deus que ela não passe
Pra ninguém me ver chorar
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